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Na Vertical,
mais recente filme de Alain Guiraudie, aborda questões relevantes – ainda
que às vezes vistas como incômodas, no mundo contemporâneo. O cineasta francês,
que chamou a atenção mundial com o thriller gay Um Estranho no Lago, desta
vez traz para as telas o sexo com idosos, eutanásia, maternidade, o papel do homem, medicina
alternativa, tudo filmado de forma realista, o que atrai, repele e,
principalmente, confunde.
Léo (Damien Bonnard) é um roteirista que
parece estar sofrendo um bloqueio criativo. Sai em seu carro pelo interior da
França até cruzar com um jovem, que convida para fazer cinema, sem sucesso. A
seguir, sob o pretexto de que tem fascínio por lobos, estabelece uma conversa
com uma pastora, Marie (India Hair), com quem acaba tendo uma relação
amorosa que resulta em um filho, rechaçado pela mãe. A partir daí, ele
perambula entre o campo e a cidade, apenas com seu bebê, à procura de não se
sabe o quê, premido pela necessidade de dinheiro e a pressão de seu produtor
para que entregue o roteiro. Entre idas e vindas, sofre assédio do avô do seu
filho e auxilia um outro idoso a morrer
de modo, digamos, pouco convencional.
Na Vertical
opera
num registro que oscila entre o sonho, o desejo e a piada. Montado de maneira
convencional, porém, perturba o espectador, o que talvez tenha sido mesmo a
intenção de seu roteirista e diretor, que buscar realizar um cinema alternativo
e iconoclasta. Centro da narrativa, Léo atrai todos os olhos para si, apesar de
parecer apenas se deixar levar pelas circunstâncias. É um homem dos nossos
tempos, com uma sexualidade fluida, uma curiosidade que o leva a se embrenhar
em um pântano e a buscar lobos, e um desprendimento que o fazem ter uma ligação
especial com seu filho recém-nascido e com o idoso solitário (Christian
Bouillette) que ouve Deep Purple em alto volume e pragueja contra aquele
que cuida dele, o enigmático Yoan (Basile Meilleurat).
Há momentos estranhos, como a consulta a uma
terapeuta que atende em uma cabana em uma floresta e usa plantas para examinar
o paciente; outros constrangedores, como o parto, mostrado em todos seus
detalhes, e outros pavorosos, como o ataque que Léo sofre pelos mendigos que
parecem zumbis. A fotografia é bela e ver outras paisagens da França fora de
Paris é estimulante. A sequencia final, se impressiona e dá algum sentido ao filme e até a
seu título, não o redime totalmente; a impressão é que se arranha a superfície, mas não se chega ao fundo (talvez não haja nenhum). A metáfora do lobo é banal num filme que é tudo menos isso.
Por Gilson Carvalho
Nota 6
Ficha Técnica
Na Vertical
(Rester Vertical) – 98 min.
França – 2017
Direção: Alain Guiraudie
Roteiro: Alain Guiraudie
Elenco: Damien Bonnard, India Hair,
Christian Bouillete, Raphael Thierry, Basile
Meilleurat, Laure Calamy
Estreia 22 de
junho
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