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O desencanto vivido por Grace é, no
fundo, a crise pela qual passaram as monarquias no Século 20: despida de seu
poder decisório e confinada a uma rotina simbólica e cerimonial, a monarquia
mergulhou em uma crise de identidade. Qual era, afinal, o seu lugar em uma era
de democracia e cultura de massas? Quando sumir o lustre das coroações e as
jóias perderem seu brilho, o que restará?
“Eu pareço infeliz?” pergunta a
princesa. “Você parece cansada”, responde o diretor. A princesa é Grace de
Mônaco, nascida Grace Kelly. O diretor é Alfred Hitchcock, seu freqüente
colaborador. O diálogo é uma das primeiras cenas do filme Grace de Mônaco. Hitchcock
está a visitar sua antiga musa para propor-lhe um papel em um novo filme, mas
para Grace, está claro que seu papel no mundo agora é outro. Adaptando-se aos
poucos ao seu novo papel de realeza (recebendo reprimendas de seu marido pelos
deslizes que comete ao retornar aos seus hábitos plebeus) Grace é uma mulher
que não está nem aqui, nem lá: nem mais rainha de Hollywood, nem ainda princesa
de Mônaco.
Esse senso de inadequação permeia o
filme, contrastando com o mito de “conto de fadas” que cercou a vida da
Princesa. Retratados no filme estão o relacionamento difícil de Grace (Nicole Kidman) com seu marido, o
Príncipe Rainier (Tim Roth), e as
desavenças que surgem quando ela escapa de seu papel designado de esposa-troféu
e fala o que não deve sobre assuntos políticos vitais para Mônaco, que, para
além de sua condição de balneário chique, está envolvido em uma crise
diplomática com a França: A fuga de capitais da França para Mônaco, um paraíso
fiscal, provoca a ira do General De Gaulle e uma ameaça de invasão francesa. É
um momento histórico capturado habilmente pelo diretor Olivier Dahan (da também cinebiografia Piaf – Um Hino ao Amor), junto com outras citações à década de 60
espalhadas pelo filme, que também conta com menções ao bilionário grego Onassis
e a Guerra da Argélia. Esses detalhes, somados à uma suntuosa reconstrução de
época dão ao filme sua atmosfera de elegância nostálgica.
"Grace de Mônaco" mostra uma mulher dividida entre dois continentes e duas eras

A mensagem central do filme – “ser
rico e importante também traz seus problemas” – foi contada antes de formas
mais eficientes e eloqüentes. O filme, no entanto, se diferencia da competição
pela atuação contida e digna de Nicole Kidman, que se sobressai em imprimir à
majestade de Grace uma melancolia que era a conseqüência lógica de sua vida:
símbolo simultaneamente da cultura de massa americana e da tradição secular da
monarquia européia, Grace foi uma mulher dividida entre dois continentes e
ponte entre duas eras.
Por Franco Alencastro
Nota 8
Nota 8
Ficha Técnica
Grace de Mônaco (Grace of Monaco)
– 103 min.
França / EUA / Bélgica / Itália –
2015
Direção: Olivier Dahan
Roteiro: Arash Amel
Elenco: Nicole Kidman, Tim Roth, Frank Langella, Paz Vega,
Parker Posey, Milo Ventimiglia.
Estreia: 29/10
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esse filme eh ridiculo.
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